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MINA HACKER

Por Silvana Bahia

A paulistana Bianca Santana encaixa-se no padrão da mulher contemporânea. Ou seja: joga em todas as posições. Ela é mãe da pequena Cecília, de 5 meses, do Pedro, de 2 anos, e do Lucas, de 4 anos. Ao mesmo tempo, trabalha como educadora e jornalista. E, para completar, ainda arruma tempo para se dedicar ao ativismo da cultura digital livre.

“Nós, mulheres, somos muito hackers!”
Foto: Renato Targa

Diretora de educação do Instituto Educadigital, Bianca é mestre em educação pela Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisou os usos das tecnologias de informação e comunicação na educação de jovens e adultos. Também colaborou com a edição de livros e objetos educacionais multimídia.

Ela falou ao Boletim de Notícias e Análises sobre o cotidiano agitado, a maternidade, os preconceitos e, principalmente, sobre as possibilidades criadas na relação entre Educação e Cultura Digital.

Notícias & Análises: Como e por que começou a sua relação com a cultura digital?

Bianca Santana: Em 2006, uma amiga de faculdade, a Daniela Silva, da Transparência Hacker, insistiu para eu ir ao primeiro Barcamp Brasil, uma desconferência para tratar de tecnologias e usos sociais das novas tecnologias. Eu tinha muito preconceito com tudo que se relacionasse com isso. Chegando lá encontrei pessoas maravilhosas que encontravam naquele universo maneiras lindas de tentar mudar o mundo. Eu me encantei, comecei a usar software livre, a participar de listas de discussões e a perceber o digital como uma imensa possibilidade de transformação.

N&A: Além de mãe, você é feminista, jornalista e educadora. Como consegue conciliar tanto trabalho com a vida pessoal?

BS: É bem difícil. Mas essa é a vida de muitas mulheres. Sou filha de uma mulher que saía de casa às seis da manhã e voltava às oito da noite. Dava conta sozinha do sustento da casa. E a mãe dela, minha avó, era doméstica durante o dia e lavava roupa para fora de madrugada. Sustentou também sozinha dois filhos. Sou muito privilegiada. Tenho um marido para dividir as obrigações e despesas. Tenho uma pessoa trabalhando na minha casa que me permite sair para trabalhar. Conto com a ajuda da minha mãe quando preciso. Fazer minha própria rotina, com horários flexíveis, também ajuda muito. Essa semana meu filho mais velho teve uma infecção no ouvido e ficou febril. Para cuidar dele, trabalhei de madrugada. E assim vamos levando.

Na RodAda Hacker em São Paulo Foto: Open Knowledge Foundation Brasil
Na RodAda Hacker em São Paulo
Foto: Open Knowledge Foundation Brasil

N&A: Como articular educação e internet de maneira eficiente?

BS: Insistindo na autonomia e na autoria de professores e estudantes. Não existe solução pronta. Acreditar que tablet, lousa digital ou repositório de vídeo na internet vai resolver os problemas da educação é um erro. Qualquer tecnologia só faz sentido se estiver a serviço de um projeto de aprendizagem.

N&A: Quais as possiblidades reais da cultura digital aplicada à educação?

BS: Muitas. As pessoas podem compartilhar a produção e podem aplicar as possiblidades de interação além dos muros da escola. Mas há dificuldades também. A maior delas, na minha opinião, é um certo endeusamento da tecnologia como se fosse algo maior que as pessoas envolvidas nos processos educativos. E um uso mecânico de dispositivos que só mantêm a educação como ela é.

N&A: Como a internet pode contribuir na educação para além de suas ferramentas como vídeos, blogs, entre outros? É possível que a internet seja menos uma ferramenta e mais um ambiente de desenvolvimento educacional ou pedagógico/metodológico?

BS: A arquitetura de rede da internet, em que cada um de nós é consumidor e potencial transmissor de informação, conhecimento e cultura, pode inspirar muito novos modelos de educação. Professores, estudantes, comunidade escolar, todas as pessoas podem se envolver de verdade na construção do conhecimento.

N&A:  Como?

BS: Produzindo, registrando, compartilhando, remixando. Ser mero usuário de recursos digitais é bobagem. Produzir esses recursos em vídeos e blogs como você citou é um avanço. Envolver estudantes e equipe pedagógica na “caixa preta” das coisas, para entender como a internet funciona, como o mundo funciona e como podemos intervir no mundo objetivamente melhorando a nossa realidade, é o melhor que podemos pensar na relação da internet com a educação.

N&A: Quando se pensa em hacker, o senso comum associa à figura masculina. Existe preconceito em relação às mulheres? Como é ser uma “mina” hacker?

BS: O senso comum associa a palavra hacker a algo negativo: alguém que vai contaminar o seu computador e roubar as suas coisas.
Isso, na verdade, é o que chamamos cracker. Hacker é aquela pessoa que encontra soluções para as coisas, do seu jeito, e compartilha essas soluções com o coletivo.
E nós, mulheres, somos hackers na vida: nós encontramos soluções criativas para os nossos problemas o tempo todo, inventamos saídas mesmo e compartilhamos as soluções com outras pessoas. Quer coisa mais hacker?

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