Matéria: Gabrielle Araujo (gabrielle@observatoriodefavelas.org.br)
Arte gráfica: Taiane Brito (taiane@observatoriodefavelas.org.br)
Além de servir como uma forma de empoderar e permitir novos olhares sobre aqueles que, historicamente, vivenciam um cenário de disputas e estruturas colonizadas, a etnocomunicação utiliza dos meios de produzir comunicação para ser representativa e, consequentemente, plural.
É assim que a tecnologia se junta à tradição e promove um combo que transita entre apresentar a luta constante pela garantia por direitos, assim como romper com estereótipos e senso comum. Diante disso, em 2013, a Rádio Yandê, primeira mídia online brasileira a fomentar a etnocomunicação de forma íntegra, é um dos exemplos de uma galera que coloca em pauta diariamente a necessidade de descolonizar a comunicação.
A jornalista, poetisa e artista visual, Renata Tupinambá, é uma das co-fundadoras da Yandê e atua diretamente com o fortalecimento das narrativas indígenas nos mais diferentes meios de comunicação. Assim como o conceito que integra essa forma de mídia, Renata leva essa premissa à sério e combina arte, cultura e comunicação de forma plural.
Para comentar um pouco mais sobre esse tema, ela conversou conosco sobre projetos e caminhos para o fortalecimento de uma mídia em que a diversidade étnica e cultural seja cada vez mais frequente.
Qual a importância de pensar e produzir comunicação a partir do olhar e vivência de indígenas?
Renata: Ser protagonista da própria história é tomar a palavra roubada pela colonialidade e exercer o direito enquanto ser humano de possuir autonomia. Por muito tempo, indígenas ficaram presos a interlocutores que exerciam de forma muito explícita um papel tutelar junto ao governo e ao Estado. Apenas em 1988 com a Constituição, o indígena passa ser um cidadão de direitos no Brasil.
De qual forma a etnomídia atua como ferramenta de empoderamento cultural e étnico, além de promover a amplificação das narrativas dos povos originários, principalmente de indígenas?
Renata: A etnocomunicação fortalece a identidade dos comunicadores indígenas. Ela não é apenas jornalística, abrange arte, música, vídeo e todas formas possíveis de fazer uma comunicação do ponto de vista da etnia de quem produz. Não está presa a formatos, é viva não presa aos padrões da indústria cultural.
Como foi a sua experiência como uma das fundadoras da Rádio Yandê? Quais desafios precisou lidar enquanto comunicadora e com um projeto dessa importância?
Renata: Foi um marco na história da comunicação indígena no Brasil a Rádio Yandê. Um excelente laboratório de etnocomunicação. O maior desafio foi fazer algo que nenhum outro grupo estava fazendo, mas ao mesmo tempo se inspirar no trabalho de todos os que vieram antes. Tudo que fazemos é coletivo, sempre foi uma rede coletiva. Não é fruto de um olhar, mas de todos – como o próprio nome significa isso.
Quais os caminhos para traçar projetos de comunicação e educação que estejam em diálogo com a luta indígena e toda a sua ancestralidade?
Renata: Comunicação é educação. É direito e saúde para a população indígena. Entender que educação também é comunicação é fundamental para ampliar e expandir o campo de atuação sendo base de fortalecimento para as pessoas indígenas nas comunidades ou em contexto urbano. Políticas públicas são necessárias para a comunicação indígena.
Para o futuro, quais são os seus projetos planejados até o momento?
Renata: Projetos voltados a arte e música indígena ampliando espaços para profissionais do setor. A arte tem um poder de comunicar incrível e tenho investido em projetos como o Originárias, produções musicais, audiovisuais, produção de artistas indígenas, curadorias, consultoria em diferentes áreas, para trazer visibilidade e também combater o racismo que todos enfrentam diariamente.