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Território, identidade e memória: narrativas em diálogo no Música e Migração

Matéria: Gabrielle Araujo (gabrielle@observatoriodefavelas.org.br)
Peça gráfica: Taiane Brito (taiane@observatoriodefavelas.org.br)

Projeto do eixo de Políticas Urbanas do OF movimenta artistas periféricos para dialogarem sobre políticas urbanas através da cultura

Os becos e vielas das favelas e periferias carregam histórias e trajetórias que integram uma cultura extremamente rica e potente. Além disso, toda essa construção, palatável ou não, tem grande participação de artistas que se desdobram em compartilhar seu talento atrelado à identidade e formação do espaço. Nesse contexto, surge o Música e Migração: Memórias das Favelas do Rio e Mumbai, projeto realizado em parceria pelo Museu Sankofa, o Observatório de Favelas e o Instituto Moreira Salles.

A iniciativa será dividida em algumas fases: a primeira consiste em uma pesquisa para amplificar as memórias que esses locais carregam a partir da trajetória desses artistas. A Maré e a Rocinha são as duas favelas que integram essa etapa. Para isso, artistas dos dois territórios foram entrevistados e o conteúdo resultará em produtos de comunicação: podcasts, vídeos etc. Para os próximos passos, uma série de ações e eventos culturais, como ações poéticas, oficinas e até mesmo um festival, estão no radar. Todos os conteúdos serão disponibilizados de forma gratuita para o público.

O principal diferencial do projeto é o de manter um engajamento da rede de artistas populares e periféricos através do intercâmbio de ideias, conhecimentos e trajetórias. Com isso, a ação estimula a importância de reconhecer a atuação desse público como propulsores da cultura local e também da manutenção da história urbana. Para saber mais sobre a iniciativa, conversamos com o Lino Teixeira e o Antonio Pimentel Sequeira Junior, pesquisadores do eixo de Políticas Urbanas do Observatório de Favelas.

Notícias & Análises – Como surgiu o Música e Migração?

Lino Teixeira – O projeto surge a partir da parceria entre o Instituto Moreira Salles, o Observatório de Favelas, o Museu Sankofa e a Universidade de Columbia. Ele veio com o objetivo de, no primeiro momento, pesquisar artistas da música que têm uma relação com o território – especificamente da favela da Maré e da Rocinha – para, a partir desta pesquisa, realizar outros produtos, como podcasts, vídeos etc. Então, surge essa parceria para pesquisar as relações entre música e território a partir dessas duas favelas, mas já pensando em expandir para outros territórios e tendo também a Índia, a partir de Mumbai, como uma segunda fase do projeto. A ideia é justamente entender que o território é formado por várias dinâmicas plurais em que a cultura e, especificamente, a música, exerce um papel central tanto para compreender o território quanto para conformação do território. Então é esse é o sentido de trazer a música para pensar e para construir uma pesquisa para compreender as territorialidades.

N&A – Qual o objetivo de promover um projeto que seja a partir de um olhar mais artístico para pensar em uma pesquisa?

Antonio Pimentel Sequeira Junior – Eu acho que esses projetos ampliam o leque de diálogo desses artistas e faz com que eles extrapolam os seus territórios. Eles já fazem isso, com territórios que possuem diálogos com as suas trajetórias e com as suas manifestações artísticas. Mas colocar eles em diálogo com outros territórios, muitas vezes com similaridade com os seus, e pensar neste lugar como também de diálogo é super potente. Além disso, promover também a articulação com outros atores – que não só os artistas, mas todas as pessoas que estão envolvidas nesse projeto. E tendo em vista que essa iniciativa também pretende uma articulação futura com protagonistas de outros países e espaços de favela e periferias. Eu acho que isso promove, para além de um diálogo de similaridade entre essas trajetórias, mas também uma articulação é o maior debate sobre como essas narrativas interferem nesse território. Então acho que eles são importantes nesse sentido. Sem contar que amplia a projeção desses artistas, do trabalho artístico, porque eles vão ter contatos com outras referências e espaços que podem trazer outros olhares artísticos também para ele, então acho que também tem essa essa potencialidade que nem sempre vão estar apenas no campo da música, mas pode entrar no da poesia ou em outros.

N&A – Quais objetivos o OF procura atingir com o Música e Migração?

Lino Teixeira – O objetivo é justamente visibilizar essas relações entre a música e o território nas favelas e periferias. Principalmente a partir das trajetórias pessoais e profissionais desses sujeitos. E, a partir dessas dinâmicas, entender como elas produzem o próprio território. Então, com isso, a gente quer compreender as relações também de diáspora, imigração e movimento que são centrais na formação das favelas e periferias – não só do Rio de Janeiro.

N&A – Qual importância você aponta para pensar a arte como elemento fundamental ao se debater sobre políticas urbanas?

Lino Teixeira – Pensar na arte é central para a gente em políticas urbanas e para o tipo de disputa de cidade que a gente quer. Então a nossa produção é artística. A música, em especial, mas outras expressões também estão nas favelas e periferias a partir dessa importância que elas exercem na produção da cidade. Para a gente, é central mobilizar esses sistemas e essas camadas para compreender essas dinâmicas sociais e para fazer o tipo de disputa de cidade que a gente está interessado. É também a partir de um outro olhar sobre a cidade e essas políticas urbanas que é possível compreender a música nas favelas como elementos centrais na produção do espaço do território e na disputa da própria cidade.

Antonio Pimentel Sequeira Junior –  Eu acho que a arte é um elemento fundante. A arte, os movimentos culturais e os movimentos artísticos são fundamentais para a gente pensar em política urbana, porque eu acredito que por esses eixos, a gente tem uma emancipação desses territórios. E a gente tira muitas vezes esses territórios de um lugar que o projeto do Estado os coloca, que é o da ausência, da escassez e da morte. Com isso, o Música e Migração coloca esses territórios no lugar de pensar a vida,  de pensar e estimular futuro de ter de ser um lugar de furtividade desses eixos pelos quais eles já são colocados dentro de uma política de estado de extermínio da população periférica e, sobretudo, da população preta. Então acho que articular com esses artistas que são em sua maioria pretos, mulheres ou são de origem nordestina é ótimo também para gente pensar, estipular e discutir política pública. Porque acho que pensar nesse sentido através da cultura e da articulação dos territórios pela tula, é um dos maiores acontecimentos que a gente tem para um território. É pensar o que são esses espaços senão um território de emancipação. Isso reforça o caráter desses lugares e reforça o patrimônio, que é o material e simbólico que eles têm sobre as pessoas que habitam ali.

N&A – Júnior, pode me contar um pouco sobre você e como se deu o seu envolvimento com o Música e Migração? Fala sobre a sua trajetória, por favor.

Antonio Pimentel Sequeira Junior – Então o meu envolvimento com o projeto Música e Migração se deu a partir da minha entrada no Observatório de Favelas para trabalhar junto aos pesquisadores no eixo de Políticas Urbanas. Esse projeto super se atrela a minha trajetória também de pesquisa, porque eu faço uma pesquisa até no mestrado sobre as trajetórias das mulheres da minha família a partir dos seus diálogos com os territórios, através das suas práticas, das suas vivências e dos diálogos que elas precisavam e formas de reverberar a vida que elas precisaram é manter para pensar em seus próprios futuros. Então acho que o projeto Música e Migração fala muito disso assim no contexto em que ele está nas conversas e que a gente estipula com os artistas. A gente percebe o quanto a música é presente nas trajetórias desses desses artistas. Então acho que estou muito nesse lugar. Essa aproximação dialoga com a minha trajetória e pesquisa nesse sentido, sem contar que a música é uma coisa muito presente na minha trajetória através da minha família do meu ciclo mais íntimo, com os meus pais, os meus avós e as minhas tias. A música é uma coisa que acontece com muita gente que também está muito presente nesse lugar das trajetórias das mulheres da minha família.

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