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A crise eleitoral da direita e os caminhos estratégicos para a esquerda

Por Jailson de Souza e Silva¹

Rio de Janeiro – Falar em forças opostas no âmbito do espectro político foi considerado um esforço analítico ultrapassado por muitos durante certo período, no Brasil e no mundo. Não mais. Seja pelo fortalecimento de grupos que se reivindicam de extrema direita, como Bolsonaro no Brasil e várias forças políticas norte-americanas e europeias, seja pela polarização de posições de defesa ou supressão dos direitos fundamentais, as identificações no campo político se tornaram evidentes e mesmo necessárias.

Para situar as forças políticas no espectro, cabe levar em conta dois fatores estruturantes e um conjuntural: os estruturantes dizem respeito à economia e aos direitos individuais, dentre outros. Assim, as forças conservadoras naturalizam a desigualdade, entendem que o único caminho para supera-la, quando levam o tema em questão, seria através do investimento em Educação, e defendem o Estado social mínimo, a serviço do Mercado e dominado por seus pressupostos. Também vão defender o radical controle sobre o corpo e a consciência, a violência como estratégia central na segurança pública e a subordinação das artes e do conhecimento científico à moral e aos princípios religiosos cristãos.

No plano conjuntural, a posição sobre a constitucionalidade da prisão de Lula é um fator central para definir a inserção nos campos políticos. Os candidatos no campo do centro e da esquerda afirmam um posicionamento que politiza a questão, deixando claro a partidarização de setores do Judiciário. Os da direita, publicamente, se posicionam defendendo a justiça da prisão e de que a lei seria para todos.

Temos assim, no Brasil de hoje, posições que vão de Guilherme Boulos até Jair Bolsonaro. A questão é que a distância que separa o PSOL do PT de Lula diminuiu ultimamente. Assim, a esquerda e a centro-esquerda dialogam melhor atualmente. Por sua vez, o problema para a direita é que ela não tem candidatos hoje identificados com o centro político. Geraldo Alckmim, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia são de direita, sempre foram, considerando as práticas que expressam as posições desse campo. Assim como os outros candidatos no campo conservador. Precisam se distinguir de Bolsonaro, mas isso não é simples, pois este vem assumindo posições no campo da economia mais pro mercado e mantendo a defesa radical pela supressão dos direitos fundamentais, o que tem forte eco numa sociedade conservadora como a nossa. Com isso, tem boas chances, considerando a pulverização eleitoral, de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais.

O outro candidato deve ser do centro, da centro-esquerda, mais precisamente. Lula será um personagem central na eleição, pois sua improvável candidatura ou a quem apoiar tem boas chances de ir para o segundo turno. E qualquer um deles será favorito contra o fascismo de Bolsonaro. Para isso , vão buscar tornar o principal político brasileiro incomunicável, algo difícil de ser feito, embora não impossível.

Temos, assim, a essência da crise das forças conservadoras: tanto esforço para tirar o PT e se vê há menos de seis meses das eleições sem um nome forte para elas e sem condições, no momento, para apostar em um aventureiro como o ex capitão do Exército.

Nesse quadro, Marina, com posições titubeantes, que se posicionou contra o PT e as forças do centro e da esquerda nos principais embates da conjuntura recente, pode ser a esperança conservadora. Ela seria mais confiável do que Joaquim Barbosa, uma figura política imprevisível. Assim, cabe prestar atenção em como a grande mídia – o “partido movimento ” dos conservadores no país – irão tratar a candidata mais fluida no momento político atual. Esse comportamento nos permitirá saber em quem vão lançar suas desesperadas fichas.

Sobre os campos da centro-esquerda e da esquerda, levando-se em conta que seu principal nome está pressionado de todas as formas para evitar sua participação no processo eleitoral, a pulverização de candidaturas se coloca como um problema para a chegada no segundo turno; mas, esse campo tem mais chances de ter um nome na disputa final que os grupos tradicionais da direita. Resta saber quem irá ter maior capacidade de atrair a base social identificada com esse campo e/ou com Lula. Falarei mais disso na próxima semana.

¹ Jailson de Souza e Silva é Fundador do Observatório de Favelas e diretor geral do Instituto Maria e João Aleixo

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