Nota assinada por organizações da sociedade civil
O Júri Popular do homicídio de Johnatha de Oliveira Lima, assassinado aos 19 anos de idade em Manguinhos (RJ), no dia 14 de maio de 2014, durante uma ação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local, terminou nesta quarta-feira (06), após quase dez anos do crime. A mãe do jovem, Ana Paula de Oliveira, protagonizou uma intensa mobilização social, que durante dois dias ocupou os corredores do Fórum do Rio de Janeiro. O que se viu, no entanto, foi a repetição de um roteiro de injustiça, impunidade e racismo que caracteriza o julgamento de agentes de Estado no Brasil.
Na decisão, o Júri popular entendeu que o Policial Militar Alessandro Marcelino de Souza foi o responsável pelo disparo, mas “não teve intenção de matar”. Foi caracterizado, assim, um homicídio culposo, sem intenção, e este tipo de crime não é de competência do Tribunal do Júri, que apenas pode julgar crimes dolosos contra a vida. Como o réu é policial militar, o assassinato de Jonatha passaria, então, para a Justiça Militar, reiniciando todos os ritos processuais.
Reiteramos que fóruns da justiça militar não são competentes para julgar violações de direitos humanos e crimes contra a vida, como é o caso de homicídios perpetrados por militares contra civis. Isso contradiz os princípios fundamentais do julgamento justo, independência judicial e imparcialidade das decisões. Transferir esses julgamentos para uma instância militar viola as obrigações do Brasil sob o direito internacional de direitos humanos, incluindo o direito a um julgamento, pois os tribunais militares não garantem independência judicial. É importante salientar que os parâmetros internacionais de direitos humanos apontam que a jurisdição militar deve ser excepcional, aplicada apenas aos membros das forças armadas por infrações à disciplina militar.
O Ministério Público e a Defensoria Pública, que atua como assistente de acusação no caso, já anunciaram que irão recorrer da decisão. Para as entidades e para todos os movimentos que acompanham o caso, as provas apresentadas são contundentes e afastam o enquadramento como crime culposo. A luta agora é para que o Tribunal de Justiça acolha o recurso.
Durante o júri, ficou comprovado que os disparos efetuados pelo policial foram para desmobilizar um protesto de moradores, formado basicamente por jovens e crianças, que se manifestavam contra a violência policial na comunidade. O policial militar assumiu o risco de matar quando disparou diversas vezes contra pessoas da comunidade, atingindo o
jovem pelas costas e causando a sua morte.
A decisão do juri revitimiza Johnatha, Ana Paula e todos os familiares da vítima, e desvela ainda como o racismo e a impunidade operam no sistema de justiça brasileiro, especialmente quando trata-se do homicídio de jovens negros moradores de favelas e periferias.
As organizações e movimentos sociais abaixo listados prestam solidariedade à Ana Paula Oliveira e à família de Johnatha e reiteram o compromisso no enfrentamento à violência policial, com a luta antirracista e pela garantia de direito à vida e por justiça.
A luta continua!
A dor não é só de Ana Paula, a dor é de todes nós!
Por memória, verdade e justiça.
Por Johnatha e todas as vítimas fatais da polícia genocida brasileira.
Assinam:
- Justiça Global
- Mães de Manguinhos
- Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial
- Fórum Popular de Segurança Pública do Estado do RJ
- Movimento Independente Mães de Maio
- Movimento Mães da Periferia de Vítima por violência policial do Ceará 7. Movimento Mães do Curió
- Movimento Moleque
- Associação Amparar de Familiares e Amigos/as de Presos e Presas e Internos/as da Fundação Casa
- Coalizão Negra por Direitos
- Vereadora Monica Cunha
- Observatório de Favelas
- Movimento Parem de Nos Matar
- Grupo de Mulheres Felipa de Sousa
- Grupo Conexão G
- Instituto Brasileiro de Lésbicas
- Movimento de mães e familiares de
- Movimento Mulheres Negras Decidem
- Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio
- Deputado Federal Tarcísio Motta
- Instituto Marielle Franco
- Fórum Social de Manguinhos
- Mães do Jacarezinho
- Promotoras Legais Populares (PLPs) de Santos
- Coletivo Feminista Classista Antirracista Maria vai com as Outras
- Conectas Direitos Humanos
- Coletivo de Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado
- Movimento Mães de Maio do Nordeste
- Rede Jubileu Sul Brasil
- Instituto Pacs
- Terra de Direitos
- Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL)
- Mandata Luciana Boiteux (Psol – RJ)
- CRIOLA
- Rede Sapatà – Rede Nacional da Promoção e Controle Social da Saúde, Cultura e Direitos Lésbicas Negras
- PC Panelladexpressão: Etnogastronomia, Gênero, Comunicação
- Associação de Familiares e Amigos de Presos e Egressos – AFAPE 38. ACARMO LBT NEGRITUDE
- Comissão Nacional dos Pontos de Cultura – GT Gênero
- Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo – CDHEP 41. Coletiva Periferia Segue Sangrando
- Associação de Favelas SJCampos
- Centro Ecumênico de Cultura Negra – CECUNE/RS
- Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular Luiza Mahin – NAJUP Luiza Mahin/UFRJ
- Frente Estadual pelo Desencarceramento – RJ
- Frente Estadual pelo Desencarceramento – SP
- Instituto Tereza de Benguela de Direitos Humanos
- Coletivo MCMT – Mulheres Cuidando Movimento Territórios
- Coalizão Brasil Memória Verdade Justiça Reparação e Democracia 50. Filhos e Netos Memória Verdade Justiça
- Movimento Mães da Leste independente
- Instituto de Estudos da Religião – ISER
- Vereadora Monica Benicio – PSOL-RJ
- Grupo Tortura Nunca Mais/RJ
- M1508 – Coletivo de Jornalismo Independente
- Movimento Unido dos Camelôs – MUCA
- Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE 58. Comissão de Familiares de Frente de Mães e Familiares na Luta Mortos e Desaparecidos Políticos da Ditadura
- Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF/Unifesp) 60. Articulação Brasileira de Lésbicas – ABL
- ODH Projeto Legal
- Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH
- Núcleo de Estudos Guerreiro Ramos da Universidade Federal Fluminense (Negra-UFF)
- Coletivo RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação
- CIDADES – Núcleo de Pesquisa Urbana Da UERJ
- Associação Cultural Guerreiros Brasileiro
- Rede de Atenção a pessoas Afetadas pela Violência de Estado (RAAVE) 68. Ocupação Psicanalítica
- Portal Favelas
- Psicanalistas Unidos pela Democracia (PUD)
- Associação Entre Elas Defensoras de Direitos Humanos do Amazonas 72. Frente Estadual Pelo Desencarceramento do Amazonas
- Coletivo Banzeiro Feminista AM
- REMA – Rede Transnacional de Pesquisa e Acolhimento sobre Maternidades Violadas, Violentadas e Destituídas
- Grupo de Estudos e Pesquisas em Antropologia do Direito e das Moralidades – GEPADIM/ UFF
- Comissão de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Antropologia (CDH/ABA)
- Laboratório de Estudos sobre Conflito, Cidadania e Segurança Pública – LAESP/UFF 78. Coletivo Fala Akari
- Politilaje
- Jararacas RJ
- Ocupação Psicanalítica
- Frente contra a Barbárie
- Coletivo Cultural Cordão da Mentira/SP
- Associação Eu Sou Eu – A Ferrugem
- Movimento Mães de Osasco e Barueri
- Fórum Grita Baixada
- Agentes de Pastoral Negros
- Frente de Mães e Familiares na Luta – RJ
- Instituto Nós em Movimento- Movimenta Caxias
- Movimento Unido dos Camelôs (MUCA)
- Redes da Maré
- Coletivo Papo Reto
- Associação EuSouEu A Ferrugem
- Iniciativa Negra por Uma
- RFS- Rede nacional feminista de saúde , direitos sexuais e direitos reprodutivos 96. C.P.S.M.V.J: Comitê Popular de Santos, por Memória, Verdade e Justiça. 97. Associação do Coletivo Afrodivas de Niterói – Brasileiras e cia. 98. Intervozes, associação cultural guerreiros Brasileiros
- Rede Ìyálodes
- Coletivo Promotoras Legais populares -RJ
- Cidadania Feminina – PE
- Plataforma Dhesca de Direitos Humanos
- Iniciativa Pipa
- Movimento Favelas na Luta
- Observatório da Branquitude
- Instituto Soma Brasil (Movimenta)
- PerifaConnection
- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
- FAOR – Fórum da Amazônia Oriental
- Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – Abong 111. Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA 112. Casa das Pretas – RJ
- CENA BXD – Baixada Fluminense
- Coletiva Articuladas – Mulheres no Enfrentamento à Violência Institucional no estado do RJ
- Psol Santos
- Sindicato dos Bancários de Santos e Região
- Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase 118. Taliria Petrone – Deputada Federal PSOL/RJ
- Plataforma dos Movimentos Sociais por Outro Sistema Político 120. Anistia Internacional Brasil
- Laboratório Universitário de Política, Direitos, Conflitos e Antropologia – Lupa/UFSC
- Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas – RENFA 123. Coletiva Preta Performance
- CESEC – Centro de Estudos de Segurança e Cidadania