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Matem os “suspeitos” de sempre

Por Jailson de Souza e Silva* (jailson@observatoriodefavelas.org.br)

Rio de Janeiro – No clássico filme “Casablanca”, o Capitão Renault protege e salva o protagonista, Rick – Humphrey Bogart – depois que esse mata um major nazista dando a ordem aos seus comandados: “Prendam os suspeitos de sempre”. Em sua coluna do último domingo, 26/11/2017, o jornalista Elio Gaspari ironiza o uso do termo “suspeitos” pela polícia e, por extensão, pela grande mídia a jovens de favelas mortos pelas forças de segurança. Para se chamar alguém de suspeito, diz o jornalista, tem de se saber de quê. Curiosamente, poucas páginas após a da coluna, o O Globo estampava a rotineira manchete: “cinco suspeitos mortos pela polícia no Morro São Carlos “.

Lembrei-me, então, do texto escrito para a revista Nexo há tempos: “Dia 04 de abril de 2016, seis horas da manhã. Um grupo de agentes da Polícia federal, do grupo de elite da Polícia civil – CORE – e PMs invade a favela de Acari a fim de fazer cumprir um mandado de prisão de um morador local, condenado a 8 anos por tráfico de drogas. Ao fim da ação, cinco ‘suspeitos’ foram mortos; dois suspeitos de ligação com o tráfico de drogas foram detidos; cerca de 800 estudantes do ensino fundamental perderam suas aulas; os moradores assistiram mais um dia de terror armado; o mandado de prisão não foi cumprido. Mesmo assim, os policiais comemoravam o ‘êxito da operação’. Li todas as notícias que pude sobre o ocorrido e, essencialmente, essas foram as informações sobre o ocorrido. A única diferença: numa matéria similar publicada em um jornal online paulista e em outro do Espírito Santo, afirmava-se que moradores declararam que as pessoas tinham sido executadas e que uma delas trabalhava no hospital municipal existente no Bairro de Acari. Em um único jornal expresso, se publicou também a fala dos moradores e o nome do funcionário morto: Sérgio Eduardo Fernandes.”

Aos cinco “suspeitos” do São Carlos, juntam-se os sete “suspeitos” do Caju e os sete “suspeitos” do Salgueiro, em São Gonçalo – em um intervalo de duas semanas. No mesmo jornal que trouxe a matéria dos mortos do São Carlos, uma, surpreendente, matéria de alta qualidade revela um fato tão absurdo que custa crer ser real: apenas vinte policiais foram responsáveis por 10% de um conjunto de mais de 2.200 homicídios efetivados pela polícia. Custa crer que um policial possa continuar na rua, sem nenhum tipo de trabalho psicológico, depois de matar uma pessoa. E quando ela mata mais de 20 pessoas, como se pode aceitar algo desse tipo?

Essa prática absurda do comando das forças de segurança, o responsável por permitir esse massacre, só é aceita porque as forças policiais decretaram a pena de morte dos “suspeitos de sempre”: jovens, negros, das favelas e periferias cariocas. Que morrem sem direito a nome, identidade, presunção de inocência e criminalizado por um Estado que não lhes garantem a mínima dignidade, nem na vida nem na morte. Assim, não basta deplorar a prática desses pretensos policiais e do seu comando; cabe colocar em questão órgãos como delegacias, promotoria, defensoria e juizados que admitem esse genocídio, absolutamente naturalizado. Deles, podemos dizer que não são suspeitos: são cúmplices efetivos, por inação, de uma lógica assassina que domina as forças de segurança do estado do Rio de Janeiro e penaliza a população das favelas e periferias desse desigual e injusto Rio de Janeiro. Por isso, essas forças do Estado devem ser cobradas, mais e mais, a agirem.

* Jailson de Souza e Silva é Fundador do Observatório de Favelas e Diretor Geral do Instituto Maria e João Aleixo
Matem os “suspeitos” de sempre
Jailson de Souza e Silva
No clássico filme “Casablanca”, o Capitão Renault protege e salva o protagonista, Rick – Humphrey Bogart – depois que esse mata um major nazista dando a ordem aos seus comandados: “Prendam os suspeitos de sempre”.Em sua coluna do ultimo domingo, 26/11/2017, o jornalista ElioGaspari ironiza o uso do termo “suspeitos” pela polícia e, por extensão, pela grande mídia a jovens de favelas mortos pelas forças de segurança. Para se chamar alguém de suspeito, diz o jornalista, tem de se saber de que. Curiosamente, poucas páginas após a da coluna, o O Globo estampava a rotineira manchete: “cinco suspeitos mortos pela polícia no Morro São Carlos “.
Lembrei-me, então, de texto escrito para a revista Nexos há tempos: “Dia 04 de abril de 2016, seis horas da manhã. Um grupo de agentes da Polícia federal, do grupo de elite da Polícia civil – CORE – e PMs invade a favela de Acari a fim de fazer cumprir um mandado de prisão de um morador local, condenado a 8 anos por tráfico de drogas. Ao fim da ação, cinco ‘suspeitos’ foram mortos; dois suspeitos de ligação com o tráfico de drogas foram detidos; cerca de 800 estudantes do ensino fundamental perderam suas aulas; os moradores assistiram mais um dia de terror armado; o mandado de prisão não foi cumprido. Mesmo assim, os policiais comemoravam o ‘êxito da operação’. Li todas as notícias que pude sobre o ocorrido e, essencialmente, essas foram as informações sobre o ocorrido. A única diferença: numa matéria similar publicada em um jornal online paulista e em outro do Espírito Santo, afirmava-se que moradores declararam que as pessoas tinham sido executadas e que uma delas trabalhava no hospital municipal existente no Bairro de Acari. Em um único jornal expresso, se publicou também a fala dos moradores e o nome do funcionário morto: Sérgio Eduardo Fernandes.”
Aos cinco “suspeitos” do São Carlos, juntam-se os sete “suspeitos” do Caju e os sete “suspeitos” do Salgueiro, em São Gonçalo – em um intervalo de duas semanas. No mesmo jornal que trouxe a matéria dos mortos do São Carlos, uma, surpreendente, matéria de alta qualidade revela um fato tão absurdo que custa crer ser real: apenas vinte policiais foram responsáveis por 10% de um conjunto de mais de 2.200 homicídios efetivados pela polícia. Custa crer que um policial possa continuar na rua, sem nenhum tipo de trabalho psicológico, depois de matar uma pessoa. E quando ela mata mais de 20 pessoas, como se pode aceitar algo desse tipo?
Essa prática absurda do comando das forças de segurança, o responsável por permitir esse massacre, só é aceita porque as forças policiais decretaram a pena de morte dos “suspeitos de sempre”: jovens, negros, das favelas e periferias cariocas. Que morrem sem direito a nome, identidade, presunção de inocência e criminalizado por um Estado que não lhes garantem a mínima dignidade, nem na vida nem na morte. Assim, não basta deplorar a prática desses pretensos policiais e do seu comando; cabe colocar em questão órgãos como delegacias, promotoria, defensoria e juizados que admitem esse genocídio, absolutamente naturalizado. Deles, podemos dizer que não são suspeitos: são cúmplices efetivos, por inação, de uma lógica assassina que domina as forças de segurança do estado do Rio de Janeiro e penaliza a população das favelas e periferias desse desigual einjusto Rio de Janeiro. Por isso, essas forças do Estado devem ser cobradas, mais e mais, a agirem.

Matem os “suspeitos” de sempre
Jailson de Souza e Silva
No clássico filme “Casablanca”, o Capitão Renault protege e salva o protagonista, Rick – Humphrey Bogart – depois que esse mata um major nazista dando a ordem aos seus comandados: “Prendam os suspeitos de sempre”.Em sua coluna do ultimo domingo, 26/11/2017, o jornalista ElioGaspari ironiza o uso do termo “suspeitos” pela polícia e, por extensão, pela grande mídia a jovens de favelas mortos pelas forças de segurança. Para se chamar alguém de suspeito, diz o jornalista, tem de se saber de que. Curiosamente, poucas páginas após a da coluna, o O Globo estampava a rotineira manchete: “cinco suspeitos mortos pela polícia no Morro São Carlos “.
Lembrei-me, então, de texto escrito para a revista Nexos há tempos: “Dia 04 de abril de 2016, seis horas da manhã. Um grupo de agentes da Polícia federal, do grupo de elite da Polícia civil – CORE – e PMs invade a favela de Acari a fim de fazer cumprir um mandado de prisão de um morador local, condenado a 8 anos por tráfico de drogas. Ao fim da ação, cinco ‘suspeitos’ foram mortos; dois suspeitos de ligação com o tráfico de drogas foram detidos; cerca de 800 estudantes do ensino fundamental perderam suas aulas; os moradores assistiram mais um dia de terror armado; o mandado de prisão não foi cumprido. Mesmo assim, os policiais comemoravam o ‘êxito da operação’. Li todas as notícias que pude sobre o ocorrido e, essencialmente, essas foram as informações sobre o ocorrido. A única diferença: numa matéria similar publicada em um jornal online paulista e em outro do Espírito Santo, afirmava-se que moradores declararam que as pessoas tinham sido executadas e que uma delas trabalhava no hospital municipal existente no Bairro de Acari. Em um único jornal expresso, se publicou também a fala dos moradores e o nome do funcionário morto: Sérgio Eduardo Fernandes.”
Aos cinco “suspeitos” do São Carlos, juntam-se os sete “suspeitos” do Caju e os sete “suspeitos” do Salgueiro, em São Gonçalo – em um intervalo de duas semanas. No mesmo jornal que trouxe a matéria dos mortos do São Carlos, uma, surpreendente, matéria de alta qualidade revela um fato tão absurdo que custa crer ser real: apenas vinte policiais foram responsáveis por 10% de um conjunto de mais de 2.200 homicídios efetivados pela polícia. Custa crer que um policial possa continuar na rua, sem nenhum tipo de trabalho psicológico, depois de matar uma pessoa. E quando ela mata mais de 20 pessoas, como se pode aceitar algo desse tipo?
Essa prática absurda do comando das forças de segurança, o responsável por permitir esse massacre, só é aceita porque as forças policiais decretaram a pena de morte dos “suspeitos de sempre”: jovens, negros, das favelas e periferias cariocas. Que morrem sem direito a nome, identidade, presunção de inocência e criminalizado por um Estado que não lhes garantem a mínima dignidade, nem na vida nem na morte. Assim, não basta deplorar a prática desses pretensos policiais e do seu comando; cabe colocar em questão órgãos como delegacias, promotoria, defensoria e juizados que admitem esse genocídio, absolutamente naturalizado. Deles, podemos dizer que não são suspeitos: são cúmplices efetivos, por inação, de uma lógica assassina que domina as forças de segurança do estado do Rio de Janeiro e penaliza a população das favelas e periferias desse desigual einjusto Rio de Janeiro. Por isso, essas forças do Estado devem ser cobradas, mais e mais, a agirem.

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