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A contrapartida de um território marcado por ausências: conheça 5 potências periféricas mareenses

No território da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, artistas se destacam ao serem protagonistas de suas próprias histórias

Texto: Pablo Marcelino*

O Complexo de Favelas da Maré, que teve como crucial na ocupação do Bairro a construção da Avenida Brasil, em 1946, é marcado por uma resistência contra diversos tipos de opressões políticas como a intervenção militar que ocorreu durante a Copa do Mundo de 2014, a necropolítica promovida pelo Estado que até os dias atuais extermina vidas periféricas, a falta de saneamento básico nas ruas da favela e também a de políticas públicas que formam a educação basal como as Escolas, Creches e projetos culturais. A Maré também ocupa uma região à margem da baía de Guanabara, tem 17 sub-bairros, iniciando no Conjunto Esperança e terminando no Piscinão de Ramos. De acordo com o Censo Maré, uma pesquisa feita por um grupo de moradores ligados à ONG Redes da Maré, a favela é ocupada por aproximadamente 140 mil moradores, sendo considerado o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro. Dentre eles esses moradores estão como a maioria a população negra, nordestina e a população angolana, que apesar de serem a minoria, ajudam a movimentar a cultura e a economia da Favela.


A Maré é a primeira região a ter um Museu Popular, criado numa favela, por moradores e ex-moradores, sem apoio de órgãos governamentais. O território ainda é ocupado por outras organizações iniciadas pelos próprios residentes como os coletivos de arte-educação, que buscam fazer um trabalho de base entre os próprios moradores a fim de incentivar reflexões sobre o senso crítico a respeito do que é Favela, o que é ser favelado e também sobre a divulgação dos direitos civis enquanto cidadão periférico, como por exemplo, como ter acesso a Universidade Pública e aos espaços culturais da Cidade. Com isso contribuem para modificar as desigualdades estruturais impregnadas ao longo da história da população periférica, que até os dias atuais, recebem inúmeras formas de opressão vindo com um olhar distorcido, muitas vezes em forma de políticas reparatórias. 

Exemplo desta situação está no caso ocorrido do dia 19 de junho de 2017: a sala de informática do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Samora Machel teve um curto-circuito e pegou fogo. Os moradores se mobilizaram e solicitaram o Corpo de Bombeiros mas para surpresa de todos, o que chegou à frente dos bombeiros foram quatro caveirões da Polícia Militar e iniciou uma intensa troca de tiros entre policiais e traficantes colocando os moradores no meio do fogo cruzado.


Outra forma de violência, está relacionada a propagação distorcida que a mídia hegemônica faz relacionado aos espaços periféricos. O G1, trouxe no ano de 2020, em uma de seus publicações de matéria o títulos “Bunker de Bandidos, Complexo da Maré Concentra mais de 240 foragidos da justiça” onde a pauta busca por meio de casos específicos como os de traficantes foragidos da justiça e de roubos praticados por facções criminosas, amenizar a influência que o Sistema Político tem na desigualdade social e consequentemente na violência interna dentro da Favela da Maré. Outro caso, foi o do jornal popular Meia Hora, que trouxe uma imagem de crianças brincando em piscinas de plástico junto à manchete “Piscinas Suspeitas na Maré”. Na matéria, a manchete traz uma tentativa de distorção do olhar onde as piscinas montadas na Favela são produtos de lucro e comemorações festivas do tráfico de drogas e não parte de um espírito comunitário onde a rua se torna o lugar de troca de prazeres entre moradores, como é comum de se ver em dias quentes do ano como o verão e em datas festivas como o carnaval e virada do ano.
Importante dizer também que, recentemente, o jornal O Globo publicou a respeito das piscinas na Europa romantizando a ideia dos portugueses improvisarem suas formas de banho em meio a onda de calor que fazia em Portugal, o que fortifica que a mídia, mais uma vez, usa  artimanhas persuasivas a fim de distorcer pontos de vistas e, não está preocupado com o bem estar da população periférica mas sim em manter seus interesses separatistas, racistas e violentos em relação a Favela criando assim formas de enfraquecer potenciais periféricos.

Em contrapartida as tentativas brutais de apagamento da população favelada e as alterações de nossas narrativas, seja com base em discursos de ódio propagados em relação a Favela ou a necropolítica que elimina vidas negras. A pauta hoje também traz como resposta, cinco potências pretas da Favela da Maré que se faz necessário tanto a notabilidade para demonstrar que a Maré não é um Bunker de bandidos e sim uma Maré de potências onde moradores produzem um trabalho baseado na arte, na educação, quanto para darmos visibilidade aos jovens mareenses que vem se dedicando no que eles acreditam enquanto instrumentalização de transformação social.

Conheça os artistas que são protagonistas de suas próprias histórias:

Thiago Santos sorri ao fundo. Foto: Acervo/Reprodução

Thiago Santos
Thiago dos Santos, Artista Visual, 23 anos. Atualmente reside no Rio de Janeiro. No ano de 2017, participou da exposição coletiva “Imagem dá Margem” no Memorial Municipal Getúlio Vargas através do curso Audiovisual Maré. No ano seguinte, realizou sua primeira exposição solo, chamada “Retratos da Maré” na UFRJ. Participou como Artista residente do Oi Kabum! LAB/19, onde expôs no Centro de Artes Calouste Gulbenkian e Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. Em 2021, foi convidado para integrar o projeto “COSTURAS URBANAS”, contemplado no edital Funarte Circulação das Artes – edição Centro-Oeste. Atualmente desenvolve os projetos “CORPO PRESENÇA – ocupação no mundo” que é sobre quanto tempo dura para um corpo ascender socialmente, ocupar locais, ser ouvido…principalmente corpos negros, ” amor é uma saída” sobre entregar flores para outras pessoas e como este ato gera várias sensações e “RE (construindo) CAMINHOS” sobre as transformações geográficas das cidades e mundo. Em 2022, venceu o edital da SECEC com o projeto “Criações Fotográficas – Processos Criativos”.

 

 

Leona apresenta inquietações e representatividade em forma de arte. Foto: Acervo/Reprodução.

 

Leona Kalí
Leona Kalí é artista multifuncional. Escritora e poetisa desde a infância. Cria da Maré iniciou sua carreira em 2014.  Faz parte dos projetos Percussão Maré, Maré Batuque onde fez descobertas musicais e atua como caixista e Entre Lugares Maré, onde iniciou o estudo de teatro, tendo diversas cenas curtas e espetáculos. É atriz e estudante de teatro. Formou-se Assistente de Beleza na escola de artes Spectaculu e é pintora nas horas vagas.  Suas pesquisas artísticas se materializam através de particularidades, sentimentos e vivências de mulher preta favelada. Trazendo ao mundo suas inquietações e representatividade em forma de arte.

 

Patrick tem uma trajetória de valor no teatro. Foto: Acervo/Reprodução.



Patrick Congo
Patrick Congo iniciou sua trajetória no projeto Sócio Cultural de teatro Entre Lugares Maré no ano de 2012. Nesta iniciativa o ator soma cinco espetáculos musicais e cinco festivais de cenas curtas dirigidos e orientados por Renata Tavares e Tiago Ribeiro.  Sua trajetória se expande para o audiovisual em 2016 com participação em “Doidas e Santas” um filme dirigido por Paulo Thiago baseado no livro homônimo de Martha Medeiros. Em 2019 faz participação no videoclipe no YouTube “Choice 21 Balas” dirigido por Matheus Solano. No mesmo ano faz participação na novela “Amor de Mãe” – Rede Globo. Ainda no mesmo ano, Patrick participa do clipe oficial do grupo Fundo de Quintal “Nosso Bem Maior” dirigido por Rei Thomaz; Filme curta metragem “Jorge” protagonista com o personagem Jorge feito por Gê Vasconcelos; Participação na série “Cinema de enredo “de Luiz Antônio Pillar e Claudia Valli. Já em 2021 o ator faz participação na novela “Nos tempos do imperador” – Rede Globo. No ano seguinte faz participação na novela “Um lugar ao sol” – Rede Globo. Atualmente o ator protagoniza a série “Candelária “que está sendo produzida pela Netflix.

Rejane divide-se em uma série de atividades, entre elas a poesia. Foto: Acervo/Reprodução.


Rejane Barcelos

Rainha dos Versos é o pseudônimo de Rejane Barcelos, estudante de Letras pela UFRJ. Rejane é atriz com 27 anos de carreira, cenógrafa e aderecista formada pela FAETEC – EAT, performer, escritora, poeta e Slammer, participou de uma antologia e alguns zines. Atualmente organiza o Slam Maré Cheia e compõe o coletivo Slam das Minas. É moradora da Maré e na Favela retira os elementos da construção de sua obra.

 

Paula reforça o valor do cuidado físico através do afeto. Foto: Acervo/Reprodução.

Paula Assis

Paula Assis, tem 22 anos e atua na área da beleza. Começou no final do ano de 2019, atendia a domicílio, e na pandemia conseguiu abrir o primeiro espaço de atendimento na Maré que atualmente é na a sala de casa. É depiladora na cera e na linha e designer de sobrancelha. O objetivo de Paula tem sido traçado todos os dias com o conhecimento de uma profissional que se aperfeiçoa e que dá o máximo na entrega de qualidade nos atendimentos as suas clientes, focando na biossegurança, mas não só prezando por um resultado satisfatório, mas sobretudo atenção, afeto e respeito. “quero elas possam sair de lá externando sua beleza e elevando a grande gostosa que são através do cuidado com sua pele, não só  além de realizar só o procedimento mas sim de entregar o real cuidado que a pele precisa”.

 

 

 

 

*Pablo Marcelino é estudante de Letras da UFRJ, morador da Maré, ator e comunicador comunitário já tendo tido passagens pelo jornal comunitário Voz das Comunidade e Literatura Comunica, onde realizou trabalhos em Luanda/Angola. Além destes espaços, Pablo também idealizou a Mostra Poética Infanto-Juvevil da Maré, que recebeu apoio da Redes da Maré. Ele foi selecionada a partir do edital Colabore com o Notícias&Análises 2022.

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