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Afrofuturismo: Desafiando narrativas na construção de um futuro mais igualitário

Neste episódio da série “FavelaPOD Democratizar”, Lu Ain-Zaila e Elbert Agostinho apresentam suas perspectivas sobre afrofuturismo, um movimento cultural e artístico que combina elementos da ficção científica, da cultura africana e afrodescendente e da reimaginação do futuro.

Sonhar e criar novas possibilidades passa por desafiar as narrativas tradicionais no campo da cultura que frequentemente marginalizam a presença negra na construção do futuro. Discutir afrofuturismo é um caminho para pensar oportunidades e possibilidades de pessoas negras e periféricas, algo que fazemos desde o início dessa série. Para este bate-papo convidamos Lu Ain-Zaila, pedagoga, escritora e pesquisadora afrofuturista, autora da “Duologia Brasil 2408” e Elbert Agostinho, PHD em Ciência, Tecnologia e Educação, professor, fundador do Observatório Carioca de Histórias em Quadrinhos e pesquisador de questões raciais, identidades e afrofuturismo.

Pergunta: O afrofuturismo tem ganhado destaque nos últimos anos, mas muitas pessoas ainda não o compreendem totalmente ou não conhecem este conceito. Poderia nos explicar o que é o afrofuturismo e por que ele é tão relevante?

Lu Ain-Zaila: O afrofuturismo é o que a gente chama de perspectiva de afrofuturo de pessoas negras. Vou falar a partir da minha perspectiva enquanto pedagoga, enquanto uma mulher negra de ativismo social e escritora. Inicialmente o afuturismo tem origem na diáspora negra, tem o início da sua história nos Estados Unidos. Então, a gente tem aí o black art moviment, a gente tem vários movimentos artísticos e políticos que vão desenhar o afrofuturismo. Eu acho que é sempre muito legal a gente dizer isso para que a gente não desloque os corpos negros das suas próprias histórias. E o afrofuturismo brasileiro, ele vai ter também a sua história a partir desses corpos negros que foram construídos aqui na diáspora brasileira. E o afrofuturismo, ele vem a partir dessa emergência de construir perspectivas negras, então no meu caso, no campo da literatura isso vai se dar pela restituição de um processo de consciência para pessoas negras. O que são corpos negros contando histórias? É como se a gente fizesse uma pergunta parecida com o que a Toni Morse fez há décadas atrás: O que teria sido da África se tivessem deixado ela em paz? A pergunta que eu faço dentro do Afrofuturismo é: Como nós podemos reconstituir as nossas histórias mesmo não tendo sido deixadas em paz? Eu acho que essa é a questão. Como é que a gente está construindo essas perspectivas de histórias? O que é que a gente está trazendo para essas histórias negras? Então mesmo não tendo sido deixados em paz, a gente construiu conhecimento, a gente tem cultura, nós temos palavras. Então como é que a gente coloca isso para contar histórias? Como é que a gente coloca isso para contar histórias? Como é que a gente faz ficção especulativa com empregadas domésticas, mulheres negras enquanto protagonistas? Como é que a gente faz histórias de fantasia com alunos de escola pública? Como é que a gente faz histórias das mulheres negras que, por exemplo, trabalham no sacolão, vamos dizer assim, e ela pode ser uma divindade escondida no meio da população, dando seus toquezinhos nas nossas realidades? Por que a gente não pode contar histórias onde você tem nesses corpos negros, cotidianos, nesses trabalhos do dia a dia, falando das nossas perspectivas de futuro?

Pergunta: Elbert, você tem se dedicado a pesquisas sobre questões raciais, identidades e afrofuturismo. Para você, como o afrofuturismo pode influenciar positivamente a discussão sobre questões raciais e identidades?

Elbert Agostinho: Primeiro, a melanina é uma energia ancestral. Eu costumo falar isso. Isso é parte de um pensamento afrofuturista que a gente vai adquirindo. Então, a gente está entendendo aqui que a melanina é uma energia ancestral. E aí, isso tem a ver com questões filosóficas, questões mitológicas, questões estéticas. Então, o primeiro passo, eu estou entendendo, que a energia ancestral é a melanina. Aquela energia que ninguém quer que a gente assuma, sabe? Aquela energia que transita no nosso movimento. Quando eu entendo isso, eu entendo que a negritude é um poder. E esse poder, ninguém quer que a gente descubra. Existe uma atmosfera branca que não quer que a gente descubra. Estão desesperados porque a gente está descobrindo que a melanina é uma energia ancestral e que a negritude é um poder. Então a gente pensa o afrofuturismo como um amanhã que será totalmente diferente do que a gente está vivendo hoje e do que a gente está buscando hoje. A gente está pensando centenas de milhares de léguas do pensamento ‘Eu tenho um sonho’ do Martin Luther King. É mais que um sonho. A gente está visibilizando isso e a gente está visualizando isso. Então, eu tenho me dedicado a questões ligadas ao afrofuturismo, inclusive antes de virar moda. Eu acho que é importante falar sobre isso porque tem pessoas que produzem de maneira visceral. Uma série de artistas brasileiros que estão envoltos ao conceito. Que estão pensando de maneira afrofuturística o tempo inteiro, que estão pensando à frente do seu tempo. Principalmente no Brasil, não exclusivamente, mas principalmente no Brasil, o conceito entra no mainstream, digamos assim, com o filme Pantera Negra. Quando a gente tem o filme Pantera Negra no cinema, muitas pessoas que já pesquisavam questões negras, não estavam atentas ao afrofuturismo, pensam ‘o quê está acontecendo?’. Então é importante perceber que nós estamos desenvolvendo ações que nós podemos chamar de afrofuturistas para além do momento moda.

 

*Essa entrevista pode ser acessada na íntegra no FavelaPOD, o podcast do Observatório de Favelas. Lu Ain-Zaila e Elbert participaram do sexto e último episódio da série “FavelaPOD Democratizar” de 2023, uma realização do Observatório de Favelas em parceria com o Seja Democracia. Acesse todos os episódios AQUI.

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