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Em entrevista ao FavelaPOD, Nyl MC comenta sobre a importância do hip-hop na construção da democracia

Bate-papo, que marca o sétimo episódio da série “FavelaPOD Democratizar”, pontua sobre democracia e cultura

Como temos reforçado ao longo das edições do FavelaPOD Democratizar, falar sobre democracia passa por diferentes âmbitos e esferas da sociedade. E desta vez, através de uma ferramenta muito importante de incidência social, política e artística, que é o hip-hop.

Ao longo de anos, são notórias as trajetórias de personalidades do rap na luta pela garantia dos direitos através de composições imponentes e assertivas. Por isso, nesse contexto, convidamos o Nyl de Sousa, rapper, produtor cultural, comunicador e arte educador que nos conta um pouco da importância da cultura do hip-hop e também de um projeto super bacana que iniciou ali na Penha, dentro da Arena Carioca Dicró.

 

Pergunta: Nyl, falar sobre democracia é pensar em metodologias, estratégias e mecanismos para enfrentar a desigualdade social. E quando pensamos nesse contexto, sabemos que não podemos desconsiderar o olhar de moradores de favelas e periferias nessa construção de conhecimento e para pensar políticas públicas efetivas. Como você analisa, a partir da sua trajetória, o poder da cultura nesse diálogo e construção coletiva?


Nyl de Sousa: O hip-hop como cultura tem diversas manifestações artísticas.O principal veículo, um dos mais difundidos, é o rap que é composto por elementos como o DJ, o MC, temos também o grafite e o break, que é a expressão corporal e a dança. Na sua gênese, especialmente se olharmos para o Brasil, o rap é uma das músicas que tem uma ligação com a denúncia. Sabemos que ele não fala apenas disso, é um ritmo que cada vez mais ele aborda diversas coisas por diversos prismas, vivências e corpos que ocupam esse lugar de fala. Uma das coisas que fez o rap ganhar esse espaço veio a partir da denúncia, críticas e da proposição de práticas.

No final dos anos 80 para o início dos 90, veio de práticas de pessoas envolvidas em coletivos, a galera chama muito de posse. No Brasil tem essa marca muito forte de começar um movimento negro muito dessa época. Até hoje o rap é para levar essas discussões, mas também formas de reflexão. Principalmente algumas pessoas têm uma percepção a partir da vivência mesmo, de seu cotidiano. Há uma distribuição muito desigual no país de recursos, então é errado achar que as pessoas não sabem isso. Mas através do rap elas conseguem ter essa forma de abrir um diálogo sobre essas reflexões, para começarmos a debater essas questões. Muitas pessoas Brasil afora começaram a refletir, por exemplo, sobre sua negritude ouvindo Racionais MC’s, MV Bill etc. Isso é um ponto, mas vai muito além. É possível ler o Brasil a partir da discografia dos Racionais, por exemplo. 

 

Pergunta: Você faz um trabalho muito bacana em amplificar os trabalhos de artistas de territórios periféricos através do Leopoldina Hip-Hop, que é o LH2. E isso se reflete nos eventos que organizam na Arena Dicró, por exemplo, e também nas parcerias que vocês traçam para fazer esse trabalho acontecer. Pode nos contar um pouco de como surgiu o LH2 e quais resultados vocês vem colhendo nos últimos tempos?
Nyl de Sousa: O Leopoldina Hip-Hop, que usamos e chamamos por essa tag, expressão que vem do grafite e é como a galera assina etc, de LH2, ele nesse ano faz cinco anos e foi uma iniciativa que nasceu na Arena Carioca Dicró, que fica na Penha Circular. É um ambiente de cultura que temos muito carinho, não apenas para o Leopoldina, mas também para pessoas que iniciaram sua trajetória ali, como a minha irmãzona que é a Ana Paula Gualberto, que estava na produção executiva, e eu na comunicação.

Fomos provocados pela coordenação da época e levamos as pessoas da cena do rap do entorno ali para a Arena. Percebemos que o espaço estava abrigando cada vez mais linguagens e percebemos isso até hoje quando olhamos a programação do espaço. Percebemos que tinha também uma dificuldade de acesso e como eu e Ana também estávamos ali, fomos provocados e olhamos ‘já temos o espaço e a estrutura, que normalmente é o mais difícil, então vamos na rede buscar a galera’. Fomos pensados nomes, acessando a galera e em 2017 começou essa empreitada. Fomos focando na realização de eventos até 2019 e, consequentemente, veio cada vez mais vindo gente para somar. 

Começamos a entender que é isso, nos espaços culturais havia uma estrutura e ao mesmo tempo tinha uma dificuldade de acesso, por vezes de muitas galeras que já fazem eventos na rua e esbarravam em algumas questões. Com isso, a gente já estando ali dentro e tendo essa vivência, fomos vendo formas de facilitar para a galera estar junto, puxando a partir do LH2, mas mostrando que caso quisessem fazer algo deles, poderiam.

Essa entrevista pode ser acessada na íntegra no FavelaPOD, o podcast do Observatório de Favelas. Nyl participou do sétimo episódio da série “FavelaPOD Democratizar”, que irá debater ao longo do ano sobre a democracia que é feito a partir da lida do dia a dia em favelas, quilombos, aldeias e territórios populares desse país imenso e profundamente desigual.

O projeto é uma realização do Observatório de Favelas em parceria com o Instituto Pensamentos e Ações para Defesa da Democracia – IPAD. Ao todo, serão 10 episódios  com convidados que atuam em seus territórios para construir uma sociedade cada vez mais democrática em que direitos fundamentais sejam garantidos para todes.

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