...
Search
EN PT ES

O audiovisual como ferramenta de transformação social

No último episódio da série “FavelaPOD Democratizar”, produtoras e roteiristas contam da importância de descentralizados o olhar sobre o que é cinema e também de propor caminhos para pessoas periféricas produzirem seus conteúdos em vídeo

Após uma jornada que se iniciou em fevereiro, chegamos ao episódio final da nossa série “FavelaPOD Democratizar”, feita em parceria com o IPAD Seja Democracia. Por isso, para celebrar – e também refletir – convidamos duas mulheres potentes para nos contarem sobre suas perspectivas, anseios e participações sobre como o cinema pode ser uma ferramenta de transformação social, pautando principalmente a participação de pessoas negras nesse setor.

Quem veio conosco nesse diálogo foi a Mayara Coelho e a Suane Barreirinhas, que atuam no setor de audiovisual há alguns anos e puderam nos ajudar a construir com maestria esse diálogo. Confira uma prévia da entrevista:

Pergunta: Mayara, muito é falado sobre a importância de cada vez mais pessoas negras estarem a frente de suas histórias em produções audiovisuais. Há uma pesquisa da Ancine, a Agência Nacional do Cinema, que revela que pessoas negras são apenas 2,5% de diretores e roteiristas e os homens estão em predominância nesse cálculo. Quais caminhos você aponta para ter uma maior participação de pessoas negras, principalmente mulheres, no mercado audiovisual brasileiro?

Mayara Coelho: Eu desde que era criança eu sempre gostei de escrever, sempre gostei de novelas e eu já tinha um leve sonhos – e digo assim porque nunca pensei em ser um sonho material – de ser roteirista de novela. Mas, eu nunca achei que isso seria possível porque eu era roteirista, de favela e do Norte. E eu nunca nem ouvi falar em roteiristas pretas. Então esse distanciamento do ser é muito complexo porque ele nos tira as possibilidades.

Então, quando você tem projetos de audiovisual voltados para pessoas negras das periferias, para projetos sociais e com impactos sociais, começamos a dar a essas crianças e adolescentes pretos e de periferias, uma noção de que eles também conseguem fazer audiovisual e que é possível. Porque esse campo, o do possível, ainda é muito complexo para quem mora na periferia e pensa que esses cursos são extremamente caros e não são acessíveis – principalmente os de roteiro. Pouco tem estudo de roteiro em português, muitos são em inglês. Então acaba sempre inacessível, de certa forma. Trazer isso com linguagem acessível, para os jovens nas periferias e também projetos sociais, como oficinas, e até do acesso à universidade, conseguimos dar uma balanceada pelo menos.

Pergunta: Suane, a partir da sua perspectiva como criadora de conteúdo e diretora de fotografia, como trazer essa potência negra para as produções audiovisuais, que ainda é muito centralizado mas também descentralizando esse foco para outros territórios, principalmente de estados da região norte do país?

Suane Barreirinhas: Quando falamos de audiovisual, pensamos apenas nos cinemas e nas mega produções. Esquecemos que essas redes sociais que também fazem audiovisual e chegaram nesses lugares. A experiência que tivemos nos territórios que passamos esse ano, que foram 10 da Amazônia, e as pessoas já sabiam até fazer roteiro. Talvez elas não tivessem um nome para isso, mas acredito que hoje, em 2022, as redes sociais acabam ajudando e facilitando isso. Por mais que falamos de uma produção de cinema, até mais profissional e pensando dos povos da Amazônia, ainda estamos à margem porque primeiro que as coisas são caras, pois a tecnologia quando chega já vem um pouco atrasada e infelizmente vivemos isso. E trabalhar isso, produzir conteúdo nessa região é desafiador.

Às vezes chegamos em territórios e lugares que não tem sinal, então ficamos meio que isolados. Tivemos umas experiências agora de passar 15 dias isolados em lugares que não tinha internet ou sinal de celular. Tínhamos que andar para outra comunidade para poder falar com as pessoas e dar retorno sobre nós. Além de lidar sempre com conflitos, pois esses territórios estão sempre em situação de uma guerra. Então, produzir audiovisual é passar por isso e colocar a nossa vida nesse lugar. Mas também temos essa vivência. O nosso audiovisual é para além de produzir um filme, para além de um clipe ou qualquer coisa. O audiovisual da Amazônia é uma vivência, é estar em contato com territórios e pessoas incríveis.

*Essa entrevista pode ser acessada na íntegra no FavelaPOD, o podcast do Observatório de Favelas. Mayara e Suane participaram do décimo episódio da série “FavelaPOD Democratizar”, que debateu ao longo do ano sobre a democracia que é feito a partir da lida do dia a dia em favelas, quilombos, aldeias e territórios populares desse país imenso e profundamente desigual.

O projeto é uma realização do Observatório de Favelas em parceria com o Instituto Pensamentos e Ações para Defesa da Democracia – IPAD. Ao todo, serão 10 episódios  com convidados que atuam em seus territórios para construir uma sociedade cada vez mais democrática em que direitos fundamentais sejam garantidos para todes. Acesse todos os episódios AQUI.

LEIA TAMBÉM!

Comunicação

Afrofuturismo: Desafiando narrativas na construção de um futuro mais igualitário

Comunicação

Desafios e soluções para promover o acesso ao cuidado mental nas favelas e periferias

Comunicação

Experiências de paternidade negra e seus desafios

Copyright – 2021 ©. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por: MWLab Digital